quinta-feira, 17 de julho de 2008

Anjos do Sol

Triste é o número de anjos [sobre] vivendo no Brasil. O país conhecido também como nação do futebol, do carnaval (lógico) e também no ranking do comércio! E que comércio hen?! Este mercado serve como modelo no mundo do tráfego sexual de crianças e adolescentes. Anjos que ainda não aprenderam a voar e que conhecem pouco de si mesmo e sobre o mundo...

Olho para este tipo de pessoas que cometem tal crime e vejo o quanto muitas delas têm se transformado em uma espécie de “mortos vivos” – lembrei do filme “Eu sou a lenda” – muitas estão anestesiadas e sobrecarregadas pelo medo, carregam um peso nas costas e não fazem à mínima idéia de onde vieram, qual sua origem. E estas meninas sem identidades/sem sexo são vitimizadas pela pior doença crônica do ser humano: o egoísmo. Desta mazela o homem tem se equipado para uma guerra sem fim. O filósofo Thomas Hobbes fala da ‘igualdade dos homens no estado de natureza. Na teoria de Hobbes é a igualdade no medo, pois a vida de todos fica ameaçada. Esta igualdade é na capacidade de um destruir o outro. Nem o mais forte está seguro, pois o mais fraco é livre para usar de todos os artifícios para garantir seus desejos e sua vida. ’ "Todos são iguais no ‘medo recíproco’, na ameaça, que paira sobre a cabeça de cada um, da ‘morte violenta’. Os homens ‘igualam-se’ neste medo da morte." Esta é uma visão filosófica na perspectiva política e que está presente na sociedade que sobrevive dividida por muros, grades, cerca – elétrica, alarmes e dentro de si mesmas.

O Saraiva (Antonio Calloni) dono da “casa vermelha” personifica pessoas que gastam sua vida num ciclo de enganos, negligências; daquelas que se tornam cúmplices de tudo aquilo que feri os fundamentos essências do ser humano: direito a vida e a liberdade. “Não foi eu quem fez o mundo. Quando cheguei já estava assim”! Quantas pessoas justificam seus crimes hediondos usando este tipo de afirmação? O mundo começa a ser construído dentro de cada um de nós...

Maria entra em cena e se faz conhecer para quem quer que queira assisti-la/conhece-la. - Eu disse querer? Ops! Quem pode assisti-la. É muito fácil assistir o filme sentado numa poltrona confortável comendo pipoca e bebendo coca-cola e de certa forma protegido (a) por uma tela de plasma e pela expectação do amigo ao lado; a pessoa se revolta e quer logo fazer justiça de alguma forma e no fim acaba sentado frente um microcomputador e escreve uma análise em seu blog onde poucos indivíduos vão ler (e se alguem ler toda crítica), enquanto o filme nos mostra (ou tenta) nos mostrar a “realidade” numa e crua... E o que fizemos? Continuamos a nossa vidinha como se encarássemos tudo que a mídia nos mostra como um bom filme de ficção somente.

Frágil menina que talvez nos diversos atos de ser estuprada preferisse lembrar de suas bonecas de pano, mas que na vidraça de sua realidade uma lágrima parecia persistir a nascer no seu olhar doloroso e sofrido, pois se vê suja pela covardia da sociedade, usada da pior maneira que se pode empregar a palavra, sem útero, sem dono - nem um sequer – sem nada. Morta documentalmente e esquecida pelos ventos da ignorância alimentada pelo “poder” e por nós!

Maria nos ensina a não desistir de combater tudo aquilo que nos aflinge, a não desistir da certeza de que o sol volta amanhã e que ele arde em vida em um outro lugar – lembro-me da música de Renato Russo e Flavio Venturini intitulada “Mais uma Vez”... Anjos do Sol é mais que um filme é um grito que permaneceu e permanece calado no interior de muitas crianças e adolescentes no Brasil e no mundo! “Quem acredita sempre alcança!”
por Rômulo Silva